sexta-feira, 6 de agosto de 2010

‘A saúde não pode esperar’, afirma Marina no primeiro debate entre os presidenciáveis


Leia abaixo as intervenções de Marina Silva durante o debate realizado pela Rede Bandeirantes. Participaram Marina, Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL).

22h – Pergunta feita por Ricardo Boechat: “Entre estes três itens, segurança, educação e saúde, escolha um que atacará imediatamente logo depois da posse e responda quais serão as primeiras providências concretas de seu governo nesse sentido?”

Marina – “Primeiro quero dizer da minha satisfação de estar nesse debate e de poder, entre nós, discutirmos o que pensamos para o Brasil e o que os nossos brasileiros e brasileiras esperam de nós através desse primeiro encontro. Uma das coisas que não se pode separar é, de fato, saúde, educação e segurança. A educação está na base de tudo, porque sem ela acabamos tendo menos segurança, menos saúde, porque a desinformação é responsável pela falta de oportunidades e também responsável por boa parte das doenças que as pessoas são acometidas. Mas é óbvio que vou escolher a saúde para ser uma das primeiras medidas a serem tomadas no meu governo, se Deus quiser. Por que a saúde, nós sabemos, é algo que não pode esperar nenhum momento. Milhões de brasileiros continuam nas filas, milhões de brasileiros continuam esperando meses ou anos para poder marcar um exame. E eu sei o que é ficar na fila como indigente. Eu sei o que é um péssimo atendimento de saúde, porque já tive a oportunidade de vivenciar como indigente as filas dos hospitais lá no Estado do Acre, a falta de atenção com a saúde pública. Algumas coisas melhoraram, melhoraram, mas nós precisamos inclusive dar recursos porque hoje os municípios estão bancando sozinhos a questão da saúde praticamente. Os Estados não repassam o dinheiro, a União não repassa corretamente e a média de repasse dos municípios em recursos já está em torno de 22%. Quando eleita, uma das coisas que vou fazer em relação à saúde é mobilizar o Congresso Nacional, mobilizar prefeitos e governadores para que possamos regulamentar a emenda 29, que até hoje não foi regulamentada e tem levado à morte milhões e milhões de brasileiros”.

22h30 – Marina perguntou para José Serra (PSDB) qual foi a experiência que tirou dos últimos 16 anos, oito dos quais como situação e oito como oposição. Na réplica, a candidata do PV disse que fazia a pergunta por, nos últimos 16 anos, ter tido a felicidade de acompanhar dois grandes partidos, incapazes porém de fazer um realinhamento histórico, de esquecer as divergências e lutar pelo Brasil. “No caso da CPMF, por exemplo, vi um partido que era a favor ser contra, e um que era contra ser a favor. É por isso que tenho feito uma proposta de que, a partir dessa aprendizagem, a gente possa trabalhar juntos pelo Brasil que nós queremos”, afirmou.

23h01 – Em pergunta para Dilma Rousseff, Marina lembrou ter uma ligação visceral com a educação, até por ter se aproveitado da fresta que teve, aos 16 anos, de aprender a ler no Mobral. Lembrou ainda que havia prometido investi atér 7% do PIB em educação e que Dilma havia concorda com a proposta e dito que isso “poderia ser feito imediatamente”. “Como isso pode ser feito imediatamente?, perguntou Marina. Na réplica, a candidata do PV lembrou que o país só investe 5% em educação. É preciso, em sua visão, ter visão estratégica e aumentar os recursos para educação.

23h05 – Dilma pergunta para Marina: “O crack afeta e atinge nossa juventude e destrói as perspectivas de futuro. Qual sua estratégia para enfrentar, combater e derrotar o problema?”

Marina – “O crack é um dos graves problemas que estão afetando nossa juventude. Só no Rio Grande do Sul temos 52 mil pessoas viciadas em crack. Tenho andado por esse Brasil afora e, aonde eu chego, mães desesperadas vêm me dizer que seu filho está completamente viciado. Como se não bastasse, uma pessoa que usa o crack pode ficar viciada em uma única vez. É fundamental que se tenha políticas públicas voltadas para um trabalho integrado entre prefeituras, Estados, sociedade civil e, principalmente, aqueles setores que têm expertise e que trabalhem com amor e respeito para os viciados. Em setembro do ano passado, o Luiz Eduardo Soares havia entregue uma política de combate ao crack. Depois tive a felicidade de ouvir que o governo federal tinha desarquivado essa proposta. Eu disse, fico feliz. Talvez se eu tivesse apresentado, teria virado apenas uma bandeira de campanha. Com felicidade eu digo, que a proposta é muito semelhante à do Luiz Eduardo”.

Na réplica, Marina disse ter insistido que o combate às drogas não pode ser encarado como um problema apenas moral. “É fundamental que se pense essa questão como uma espécie de adoecimento a que a sociedade está submetida. Uma boa parte da juventude está sendo ceifada em função do uso de drogas. É necessário uma política integrada que envolva psicólogos, agentes comunitários, terapeutas e ativades parecidas com a Justiça Restaurativa do Rio Grande do Sul, onde o próprio o Judiciário, em vez de colocar os jovens na cadeia, possa fazer um processo de restauração dos jovens”.

23h15 – Marina perguntou para Plínio que política social faria para o Brasil. A candidata do PV lembrou que as políticas sociais evoluíram, pois o país saiu do “famigerado sacolão” para uma política de transferência de renda que tirou da pobreza 25 milhões de brasileiros. “Isso deve ser mantido por uma questão de direito à vida digna das pessoas”, afirmou Marina. A senadora defendeu a necessidade de programas sociais de terceira geração, que permitam “igualdade de oportunidades, treinamentos, cursos profissionallizante, formação superior”.

23h52 – Joelmir Betting – Na politizada área ambiental, qual deve ser a prioridade. O aquecimento global, o da água, do esgoto ou do lixo.

Marina – “Devo dizer que discordo dessa avaliação veementemente. Essas duas coisas não precisam ser colocadas em oposição. A proteção das árvores, a defesa do meio ambiente e o saneamento básico fazem parte da mesma equação. E nós não podemos adiar em hipótese alguma o cuidado com as nossas crianças, com o tratamento do esgoto que, hoje, cerca de 50% da população não têm acesso a esgoto tratado. Isso também é defesa do meio ambiente. Isso é defesa da saúde pública. Isso requer também uma população e um governo educados para o século 21. Eu não posso concordar que nós tenhamos que viver sempre essa oposição entre meio ambiente e desenvolvimento. Eu venho de um Estado onde aprendi com Chico Mendes, que pagou um preço alto de dar a sua vida para defender o meio ambiente, mas para também defender as crianças da Amazônia, que não têm saneamento básico, que não têm acesso a bens e serviços, que jamais serão prejudicados em função do meio ambiente. Aliás, proteger o meio ambiente é gerar mais empregos, mais educação, ciência, tecnologia e conhecimento e gerar novas oportunidades de trabalho, novas oportunidades para que, na economia no século 21, a gente não fique preso aos velhos paradigmas. Os paradigmas que fazem com que a gente inviabilize o futuro das crianças aqui, agora. Porque continuar jogando 40% do esgoto no rio Pinheiros é acabar com o meio ambiente e destruir a vida da nossas crianças”.

Na réplica, Marina afirmou que “a luta da natureza é uma luta generosa. Ela integra a sociedade. Um capitalista precisa de água potável, terra fértil e ar puro”. “Um trabalhador e a criança pobre lá da favela do Coque, aonde eu conheci o Dado, precisam também.”

24h10 – Nas considerações finais, Marina afirmou:

“Primeiro quero agradecer a Deus por ter chegado até aqui. Quero cumprimentar a Band por este debate. Agradecer a concorrência, o Plínio, a Dilma, o Serra por este esforço que fizemos de nos expor aqui para os brasileiros, a fim de que possam tomar suas decisões conscientemente. Espero sinceramente que isso possa progressivamente ajudá-lo a tomar sua decisão no dia 3 de outubro. E eu queria só fazer um pequeno lembrete: Enganam-se aqueles que pensam que essas eleições serão ganhas pela velha lógica do ‘eu, eu, sei, sei, posso, posso, tenho, tenho’. Essas eleições, eu espero sejam um momento para a gente, sem desconstruir os acertos, sem negarmos as conquistas, inclusive dando a autoria delas. Sejamos capazes de assumir que ainda temos muito o que fazer. Evitando a complacência, sabermos que, na saúde, na educação, na segurança pública, na moradia digna, no cuidado com o meio ambiente, ainda falta muito para fazer. E, principalmente, na educação de qualidade, que gera oportunidades. O nosso país – que já foi capaz de acabar com a lógica do poder pela força, eleger um sociólogo para as transformações econômicas, acabar com o preconceito de classe para eleger o operário, que fez transformações sociais – é capaz de continuar se surpreendendo para eleger a primeira mulher de origem humilde, de raízes amazônicas, mas altamente comprometida com a sociedade. A primeira presidente da República Federativa do Brasil, para que possamos por um fim a situações como vi na favela do Coque, com o menino Dado, um menino inteligente, que ali estava jogado. E eu quero terminar, Dado, fazendo uma homenagem a você:

Havia um pequeno dado jogado por sobre a mesa

Ali nada era certeza, tudo era interrogar

Mas, para minha surpresa, na forma de um colosso

Dado era de carne e osso e sabia até cantar,

Dado, meu pequeno Dado jogado,

Que Plínio, Dilma, Serra ou Marina ajudem a mudar a cena de tantos dados jogados

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