sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Por uma cidade Severina


Foto: Rodrigo Pinho (http://www.flickr.com/photos/rodrigopinho/2197485300/in/faves-ericksonbatista/)

Severina, morta em vida, cantada por João Cabral,
Reclama dos que agonizam e não mudam para seu lado.
Pois assim, unidos, todos mortos, garante; a ninguém chegará o mal.

Já pensaram que beleza, uma cidade só de mortos?
Alguns, pouco mais vivos, governariam sem agonia,
Sem besteira contra poeira, ninguém teria alergia.
E se tivesse? Que fazer se a cidade não tem serviço de alergologia?
O negócio aqui é sem Samu, Upa nem UTI.
O negócio mesmo é micareta em ano de eleição. Morto vive é de Alegria.

Para que tanto doutor de branco, se morto gosta é de engenharia?
O negócio aqui é construção, obra e empreiteira.
Isso é que faz a cidade morta ficar viva de riqueza.
Atrai muitos empregos natimortos, que chegam com a buraqueira
E morrem em pouco tempo, ficando o caos e a poeira.

Todos unidos, mortos, sem agonia,
Seria a paz tumular a reinar sem burocracia.
Para que tanta licitação, concurso e auditoria?
Se todos concordam numa só voz:
O bom mesmo é micareta e morto com alegria.

Morto em estado de emergência: é o lema de Severina.
Em vez de ficar agonizando, o povo da periferia
Deveria estar é rezando, pois se não fosse a morta em vida,
Estaria no comando da cidade um defunto coronel
Que ainda assombra a cidade, trancado num mausoléu.

Dizem que a todos persegue, mas não se vê a sua ossada.
É dos mortos o mais vivo, cava cova dos defuntos,
Mas não fica com as mãos manchadas.
Para isso tem sempre por perto um morto burro
Que por troca de vintém, pensando que é o sabido,
Compra a briga que não é sua e por dinheiro leva murro.

Quem sabe os agonizantes, se tiverem mais juízo
E deixarem de besteira,
Deixem de lado o bom senso
E virem logo mortos vivos, apoiando Severina,
Recebendo cada um o seu quinhão
Pois em terra de morto vivo, e em ano de eleição,
Quem chega antes e sobe serra ganha o seu milhão.


Jacobina, 04 de Agosto de 2011
Cledson Sady
Membro da Academia Jacobinense de Letras

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